14 de jul. de 2012

A ERA DA EXCRESCÊNCIA

Na era do projeto pessoal irrenunciável, indivíduos crescem, mas, insatisfeitos, acham que precisam crescer ainda mais e seu sonho de agigantar-se é tanto, que já não acham mais espaço para transcender. O mundo fica pequeno para suas ambições. Saem do círculo familiar, partidário, eclesial e comunitário e crescem por própria conta, por fora. No dizer de Jean Baudrillard, caem na excrescência.
Nem família, nem autoridade religiosa, nem lideranças de partido conseguem demovê-los de seu projeto pessoal. Querem aquele posto, aquele ministério, querem-no daquele jeito e decidem que Deus os chamou a ele. A essas alturas não adianta pedir que assumam sua missão ou qualquer outra incumbência. Só fazem o que gostam. Dedicam-se de corpo e alma ao que querem e fazem corpo mole na missão que não queriam.
O individualismo leva ao seguinte raciocínio: “Junto, igual aos demais, eu não crescerei porque sou diferenciado! Tenho dons que os demais não têm! Preciso de mais liberdade, mais oportunidade, mais dinheiro, mais motivação. Não sei me auto-superar, nem transcender dentro do espaço em que vivo; saio daqui para crescer. Aqui, meus talentos e meu chamado estão sufocados por gente que não entende.” Que lideranças de partido, que bispo ou superior religioso já não ouviu este discurso? Já que o indivíduo chegou a esta postura-ruptura, o melhor é deixar que vá, ou permitir que siga fazendo o que criou para ver onde vai dar...
É individualismo exacerbado, mas disfarçado em individualidade realizada. Ele, o individualista, se torna um excrescente, porque onde quer que vá, sentirá necessidade de mais espaço. Cresceu demais e espaço algum é suficiente para o tamanho do seu ego. Não conseguindo fazer espaço dentro de si mesmo, porque não sabe renunciar nem transcender, ele conquista novos espaços, rouba o dos outros e reclama o tempo todo por sentir-se oprimido, criticado e incompreendido. Mas faz o mesmo com relação aos seus lideres e ao seu grupo religioso que porventura questione seu projeto pessoal.
As estruturas o esmagam, mas o desestruturado é ele mesmo, não sabe lidar com seu pequeno e exíguo ego, que ele sempre super-dimensiona. Precisa do grande para sentir-se grande e, com isso, esvazia-se cada vez mais. É um sujeito espaçoso. Não sabe viver em pequenos espaços, pequenas comunidades, pequenas comunicações. Vive “à la grande”! 
Um bife mal passado, um grito de criança, água que não chegou na hora, qualquer detalhe desagradável, se for artista famoso e repleto de alta-estima que ele chama de auto-estima, o tiram do sério. Não se contém, porque há tempos perdeu o conteúdo. E começou a perdê-lo quando caiu na excrescência e rejeitou a transcendência.
Transcender é ser capaz de não precisar do maior carro, do maior quarto, da maior casa para produzir coisas grandes. Num pequeno cubículo Thomas de Aquino escreveu a maioria de suas grandes obras. É não precisar ocupar a página inteira da capa do livro para divulgar suas idéias. É saber que dentro dele há mais dele do que fora. É, enfim, a teologia do pequeno rebanho e da pequenez que Maria, João Batista e tantos santos souberam viver. Quem tem espaço grande dentro de si não precisa demais do espaço de fora.
Famosa cantora exigiu um palco de 30X8 metros de fundo. Pensaram que ela traria bailarinas e uma banda de 30 componentes. Trouxe quatro músicos que poderiam muito bem ter feito boa música num palco de 6X6 metros. O argumento do empresário foi que ela não se inspirava em lugares pequenos. A cantora e a música excresceram. E excresceram porque se super-dimensionaram. O comentário de quem conhece música foi cáustico: __"Ela e o palco foram cem vezes maiores do que a música que trouxeram. Embrulho de 30 metros para um espetáculo de 30 centímetros”...

Pe. Zezinho, scj