POLÍTICA, RELIGIÃO E SOBERBA

Da raiz “super” a soberba consiste na supervalorização de pessoas ou grupos, com clara intenção de desprestigiar os outros. É um colocar-se acima de todos e, às vezes acima do bem e do mal. Mais do que ser eleito, é um eleger-se mais, melhor e maior. É o peru com penas de pavão.
Acontece em todos os quadrantes da vida, na família, na escola, na fábrica, na firma, na vizinhança. Há sempre alguém ou algum grupo a se colocar acima dos outros e a pisotear alguém. Pior ainda: o soberbo consegue, num indisfarçável marketing, mostrar-se a única solução, lançando as suspeitas e culpas sobre quem porventura dele discorde. Ditadores assim falam e assim agem. E matam quem ouse redimensioná-los para aquém do que eles mesmos se mediram.
O soberbo apossa-se do que era do outro e, quando pode, apaga e deleta o passado que descaradamente copiou. Faz de tudo para ser elogiado e de tudo para não elogiar. Raramente um soberbo escapa do baixo calão. Mais cedo ou mais tarde mostrará o quanto se adora. Não resiste à tentação de erguer seu próprio trono, seu monumento, sua imagem, seu pódio, seu altar e suas regras. Se ele faz, é certo, se o outro faz é errado. E se alguém dos seus erra é logo perdoado, mas ai do adversário que errar! O soberbo é capaz de transformar em diabo um anjo que se lhe oponha e em anjo o demônio que lhe traga vantagens.
Olhe os partidos políticos, olhe os governantes que conhece, olhe os pregadores de religião, observe como falam em estádios, praças, rádio, televisão, anote suas frases, vejam quem os aplaude e lhes faz claque, preste atenção na sua certeza de vitória, observe como diminuem o adversário e como se mostram totalmente incapazes de admitir o que era bom e é bom nos outros e conclua você mesmo.
Quando alguém discursa ou prega de tribuna ou de púlpito que antes dele nada prestava e depois dele tudo ficou melhor; quando o que ele copia dos outros e modifica, agora é bom e o que ele rejeita é porque tinha que ser jogado no lixo, fique certo de que encontrou um coração soberbo.
Há pessoas soberbas, grupos soberbos, igrejas soberbas, movimentos soberbos. Tudo neles extrapola a seu favor. Sobre eles, diz a Bíblia que é bem aventurado quem não lhes faz reverência (Sl 40, 4), quem os enfrenta e a eles não se dobra nem lhes canta elogios (Mal 3, 15). E prossegue dizendo que o braço de Deus vai dissolver suas pretensões. Um dia cairão do seu falso pedestal (Lc 1, 51-52). Paulo alerta que eles sempre existirão ao lado dos traidores, dos resmungões, dos criadores de maldade e dos maus filhos (Rm 1, 30). Sempre haverá os adoradores de si mesmos, presunçosos, ingratos e incapazes de aceitar alguém que lhes seja superior. (2 Tm 3, 2) Igual talvez, maior e melhor, nunca! Você já ouviu este discurso de políticos e religiosos...
Tiago diz que Deus os rejeita e que sua predileção vai para os humildes. (Tg 4, 6) Provérbios 11, 12 diz que a sabedoria está com os humildes e que o soberbo não resiste a comparar-se aos outros e mostrar-se acima de todos. Mateus diz que Jesus propõe humildade como condição de paz interior e serenidade. (Mt 11, 29).
Triste do povo que cai nas mãos desse tipo de liderança seja ela política ou religiosa! Estará sempre mais perto da ditadura do que da liberdade.
 
Pe. Zezinho, scj

MILHARES DE PORQUÊS

Acredito num aqui nascido de um por que, com ponto final rodeado e cercado de milhares de porquês exclamativos interrogativos. Não consigo imaginar a vida sem esses porquês.

Considero a vida uma aventura funcional. Havia, houve, há e haverá um por que para cada vida neste mundo, mas de todas as vidas, entendo que a humana é a mais funcional. Deveria ser!

Fui criado por alguma razão e por alguma razão nasci da família de onde vim nesse tempo nessa era nessa hora por alguma razão vivi ate agora aos 70 anos e por alguma razão morrerei, não sei quando, acho que meu aqui e agora é funcional. Deus o criador em que eu acredito queria de mim um resultado ao me por nesse planeta sei que não correspondi a todas as expectativas do meu Criador, mais fui, sou e serei feliz todas as vezes que eu conseguir ser funcional, isto é, quando a minha vida deu, da e der certo em favor dos outros, disso tenho certeza fui posto nesse mundo por causa dos outros, nasci de dois outros, cresci no meio de inúmeros outros, vivo no meio de milhões de outros, falo a milhões de outros, motivo milhões de outros e certamente quando ficar enfermo precisarei de alguns outros, e alguns outros me levarão ao túmulo quando morrer disso eu não tenho dúvida, fui criado em função dos outros. O mesmo acontece com todos outros seres humanos que vieram a este mundo, por isso uma das coisas mais ridícula e sinal de loucura é alguém gastar milhões consigo mesmo. Erguer palácios para o próprio deleite, fazer Templos para o Senhor e casas mais ricas para si mesmo. Uma forma de loucura criar para si cem ou mil vezes mais conforto do que para aqueles que nos ajudam a manter vivos e ganhar a vida, é uma forma de loucura puxar para si fama, honra, glória, dinheiro é a desfuncionabilidade levada aos dispersores. O ser humano funcional fica feliz com pouco, reparte do seu excesso e raramente tem excesso que vai repartindo a maneira que recebe, descobriu o bastante e o suficiente e sente-se pleno apesar de todos os seus limites a partir do fato que está ajudando outras vidas, árvores que mesmo não dando tantos frutos como dava continua dando sombra, e a árvore que mesmo estéril não se sente inútil. Comprei esses dias um relógio que parou de funcionar no terceiro dia, se é relógio e não cumpriu sua funcionalidade não houve conexão com o mecanismo e a pilha, a energia não chegou a ele, mesmo com nova bateria ele não funcionou, alguma coisa emperrava o seu mecanismo, então eu disse a Deus, Senhor eu não quero ser como esse relógio, mecanismo eu já tenho concede-me sem cessar a sua graça e sua energia e então eu funcionarei a contento. Como acredito em Deus acho que ele me ouviu.


Pe. Zezinho, scj

10º HÁ QUEM DIGA... QUE O AMOR É UM RIACHO...

É bonito,
É bonito
e é bonito!

Existe um jeito de amar ao qual se chama ÁGAPE. É o amor de quem comunga junto todas as experiências da vida. Não pára no sexo, não depende de sexo, pode existir sem sexo.
É partilha de tudo: alegrias, lágrimas, esperanças, verdades e segredos, cruzes e transfigurações, momentos bons e ruins, longe, perto, em todas as circunstâncias.
É sereno, bonito e abrangente. Não gravita em torno do prazer carnal, e, sim, da alegria de estar junto e de sonhar juntos e serenos.
O amor ÁGAPE não nega nem teme a sexualidade, mas sabe assumi-la no seu contexto pleno. Se é amizade, é amizade; se é namoro, é namoro; se é casamento, é casamento.
Os impulsos são controlados e canalizados em função da relação que os dois decidiram viver.
O amor ÁGAPE nunca é atrevido, nunca se descontrola, não força o outro a nada, não perde a cabeça, não passa dos limites, não faz agora, para se arrepender depois.

DEUS PARA OS INTELIGENTES



Conheço pessoas inteligentes que não creem em Deus. E conheço outras, também elas inteligentes, que creem. Então é assunto para além de qualquer brilhantismo cultural. Inteligente é aquele que lê dentro dos fatos. Vai além do que se vê: “intus legit”. Não fica na superfície nem na casca. Vê mais do que o visível. Elucubra, tira conclusões, faz ilações, situa, vê as concomitâncias, interliga os dados... Enfim, vai mais longe do que os olhos e os ouvidos.   

O discurso sobre Deus terá que ser muito mais inteligente e racional do que tem sido se quisermos que o mundo volte a procurá-lo de maneira serena. Há pregadores inteligentes que dizem coisa com coisa. Amigos ateus gostam de ouvi-los porque o discurso é o de quem sabe por que e no que crê. Inteligente também é o discurso de muitos ateus que fundamentam suas dúvidas.

Foi Carl Sagan que disse no seu livro Variedades da Experiência Científica; Uma Visão Pessoal da Busca por Deus, que o fato de ele dizer que não tinha fé em Deus não significava afirmar que Deus não existe. Afirmava apenas não crer nele. Situou de maneira inteligente a questão da fé e da descrença. Quem diz que Deus existe, está dizendo que crê nele. Mesmo que Deus não existisse, ele ainda creria nele. Quem diz que não crê está dizendo que não vê provas suficientes para afirmar que Deus existe. Mesmo que Deus exista, ele continuará tendo dificuldade de crer.   

E não apressemos em chamar de estúpido ou mal intencionado quem crê ou deixa de crer. Sem compreender os meandros daquela mente não temos como julgar suas abstrações. O fato de hoje que milhões procurarem Deus de maneira sôfrega, desfundamentada, histérica, sedenta e famélica e, por isso mesmo aceitarem tudo sem maiores reflexões é altamente questionador. Sua fome os submete a pregadores peremptórios e enlouquecidos que esmurram mesas e altares para expressar suas certezas absolutas, que de absoluto não têm nada. É puro jogo de cena; melhor dizendo, impuro jogo de cena! É vitória do marketing religioso sobre a ética da fé.

No passado e ainda recentemente multidões também seguiram ditadores e pregadores de ideologias de força, sem jamais questionar aquelas mortes e prisões. Hitler também dava socos e berrava suas ideias diante de multidões sequiosas de vitória e resgate da dignidade alemã. A condenação da Igreja às ideias de Hitler repercutiu pouco nos alemães daqueles dias. O bispo de Mainz proibiu aos católicos inscrever-se no Partido Nazista. Se o fizessem não seriam admitidos no sacramento. O motivo não era o ateísmo de Hitler, mas o tipo de ateísmo que ele apregoava. A diocese de Kohln também emitiu a mesma proibição. A Igreja não foi ouvida. Racistas e enlouquecidos acreditaram mais em Hitler do que nos bispos. A mídia daqueles dias e o marketing poderoso do III Reich derrotaram as cátedras episcopais. Milhões resolveram ouvir o Partido.

Hitler, Stálin e Pol Pot e, não esqueçamos Fidel Castro mataram e prenderam quem se lhes opunha. Alguns como Hitler assassinaram sem dó nem piedade milhões de opositores ou pessoas de etnia que desprezavam. Não o fizeram por serem ateus porque muitos ateus discordaram deles. Fizeram por acharem que sem as armas não se disciplina um povo e não se derrota um sistema. Bin Laden e seus seguidores, hoje, usam do mesmo argumento! Por que dialogar se a violência os leva mais depressa aos seus objetivos?

O nosso não é um mundo equilibrado, mas nele moram os que não precisam de Deus e nunca precisaram e cada vez precisam menos. Moram no mesmo planeta os que precisaram, precisam e buscam os sinais de Deus na sua vida e no mundo. Também moram ao nosso lado os que vivem depressa, comem depressa, querem tudo depressa e não poucas vezes também aceitam e proclamam milagres depressa demais. A serenidade continua sendo uma das melhores provas de que alguém de fato se encontrou. Encontrando-se é bem mais fácil encontrar outras respostas.

Respeitemos o ateu e o crente sereno; questionemos os sôfregos, os exigente e os gritalhões. Não é por que urrava que Hitler estava certo. E não é porque discursava cinco a seis horas que Fidel tinha razão. Diga-se o mesmo de outros ditadores de esquerda ou direita e pregadores que falavam com Deus 24 horas por dia!

A busca de Deus não é um jogo de crer ou não crer. E é muito mais do que fazer torcida, xingar um ao outro e destruir o bom nome da mãe do juiz. Crer ou descrer com fundamento é coisa para pessoas serenas. Deve ser por isso que crentes e ateus tranquilos conseguem ser amigos. O mesmo já não se pode afirmar dos exaltados. Não admitem que as coisas não sejam como eles as interpretam. Se ainda não leu livros de crentes e de ateus fanáticos perdeu uma boa chance de ver aonde levam as ojerizas e as intolerâncias! 


Pe. Zezinho, scj