27 de mar. de 2012

FALOU DE PAZ E MORREU

Aconteceu com Jesus, com Mahatma Gandhi, com o arcebispo católico Dom Romero, com o pastor evangélico Martin Luther King, com a religiosa católica Irmã Dorothy Stangl e com centenas de outros que falaram de paz e morreram por ter falado. Quando o conflito se agudiza, o que o possível grupo vencedor menos deseja é um interlocutor, porque desconfia que o interlocutor tomará sempre o outro lado. Então, ao primeiro sinal de que não tem o apoio dele, matam-no.

Guerras enlouquecem antes, durante e depois. Para não sair do poder, ditadores mandaram seus soldados bombardear a multidão que exigia reformas e mataram emissários e interlocutores. Loucos não dialogam e é sabido que dinheiro e poder enlouquecem.

O desejo da vitória é tão grande que a oferta de diálogo parece ofensa. Foi, também, o que aconteceu com Jesus na guerreira Palestina, melhor dizendo, no guerreiro Oriente Médio. Ali há quase quarenta séculos, tribos guerreiras se instalaram e deixaram herdeiros. Conflitos nunca solucionados, por causa de um, dois, cinco, dez estopins, acabam sempre explodindo mais uma bomba. Problemas de terra, território, água, alianças políticas, religião e etnias, se sucedem e explodem, cada qual à sua vez; quando um primeiro ministro de Israel pede paz, é morto; quando um governante egípcio assina tratado de paz, também ele é morto. Vitória total acaba em loucura total.

Uma das coisas mais perigosas da política mundial é querer paz e tentar o diálogo. Haverá sempre um grupo a boicotar os esforços de quem dialoga. Agitadores e terroristas morrem quase sempre na intenção de boicotar qualquer processo de paz. Não acreditam nisso... Armados até os dentes, eles querem vencer qualquer preço por isso matam qualquer pessoa que esteja no caminho, inclusive crianças.

A cidade que se chama Jerusalém e cujo nome significa “Cidade da Paz” é, hoje, uma das cidades mais sem paz no mundo. Significativamente “Ish-ra-el”, significa, guerreiro por Deus, mas também, “palestinos” vem de uma raiz que significa guerreiros por Deus. Para os dois lados uma a fé em Deus e a eleição por Deus funcionam como estopins. Uns dizem que o primogênito de Abraão, Ismael, é o legitimo herdeiro. Outros dizem que Isaque, o filho gerado pela esposa é que é o herdeiro, porque o outro é da escrava. Bom pretexto para se lutar por terra, água e poder.
Acrescente-se a isso três grandes religiões às vezes em conflito: judeus, cristãos e muçulmanos, cada um deles afirmando-se eleitos, uns em Javé, outros em Cristo, outros em Alá. O que sobra são dominações, conquistas, perdas, revoltas, reconquistas, guerrilhas, conchavos.

Jesus foi exigente com os lados em guerra. Tanto se aproximou que foi mal visto. Não resta dúvida na leitura da vida de Jesus. Morreu por ter falado de mudanças, de amor ao inimigo, de diálogo e de perdão. Morreu porque se aproximou e sugeriu que alguém cedesse. Quem tinha o que perder politicamente o esmagou. Não o mataram porque ensinou a orar. Foi morto porque exigiu a maior das mudanças para quem achava que perdoar é perder...! O drama continua!

PE. ZEZINHO, SCJ