28 de jan. de 2012

SEM TER PARA ONDE

Ano após ano vem à reprise. Se passassem os vídeos dos últimos janeiros, poucos perceberiam a diferença. Os governos prometem, mas não se controla por magia e por decreto o que levou anos para chegar aonde chegou: ao “não ter pra onde”.

Os pobres foram chegando e construindo seus barracos que anos depois se tornaram casas, alguns melhoraram de vida e saíram na direção de algum “para onde”. Vieram outros pobres que ocuparam as casas que, por sua vez, haviam ocupado o lugar do rio.

Morar em várzeas, encostas e morros é morar na precariedade. Mais dia menos dia haverá deslizamentos, invasão de águas e outro não ter “pra onde.” O que disse a moradora é a realidade de cerca de um milhão de paulistanos. Ir para onde, se saírem do seu onde? Ano após ano perdem seus pertences, compram e tornam a perder.

Então chegam as chuvas, as casas afundam, morrem alguns, a televisão vai lá e mostra, os governantes garantem que farão alguma coisa e realmente fazem, mas é tudo insuficiente. E há os que preferem ficar e contar com a sorte. Se morrer, morreu, já que não há dinheiro nem perspectiva de mudar. Se for longe do trabalho, não valerá a pena; perto não há mais terreno.

São Paulo cresceu demais e cresceu desordenada. Agora, só resta aos governantes a política do remendo. Não há verba para uma restauração plena da várzea. Então, o rio invade o que era seu. Expulsar os pobres das áreas de risco ninguém arrisca. Custaria um rio de votos. Empurra-se, pois, a solução para não sei quando, já que o “pra onde” inexiste. E tudo cai no funil da sobrevivência e do salário mínimo que deveria estar em 2.200 reais e subirá apenas para 622. Com esta renda, comprar o quê e alugar o quê?

Faz séculos que o Brasil é empurrado para depois e tudo termina em “vamos ver”. Todo mundo deu um jeito e o jeito agora não tem jeito. Ou São Paulo devolve o espaço aos rios e às encostas ou eles se vingarão. É mais fácil domar mil feras do que 100 quilômetros de rios. O pobre não sairá, o governo não tem mais como dar um jeito e as águas agirão. E a mídia terá longas matérias para mostrar! Seria engraçado se não fosse teimosamente trágico.

Pe Zezinho scj