Continuamos?
Chegou um dia em que a pressão foi tanta que perdi a cabeça. Eu não queria ficar sem ele, e então, deixei que fizesse comigo tudo o que queria. Dei-me a um cara que na verdade queria apenas o meu corpo e não a minha pessoa.
E agora está machucada, com ódio, e com um feto crescendo aí no seu ventre.
E não é pra estar? Eu não confio em mais ninguém; nem em você!
É um direito seu!
Desculpe. Eu confio sim, mas tenho a impressão de que todo mundo vai me trair. Sei que será difícil viver em paz daqui pra frente, porque conheço algumas meninas lá do colégio que passaram pelo que eu estou passando. Mas que o meu filho vai nascer, isso vai. Tem uma casa lá em São Paulo que dizem que acolhe meninas como eu. Se for preciso vou pra lá. Não sou pobre, porém nem que tenha que lavar roupa pra fora, vender pastel na rua, eu vou levar esta gravidez até o fim. Quero ser mãe. Mesmo sendo adolescente e despreparada. Matar meu filho eu não mato. Está vendo Simone? Isto mostra o quanto você é feminina e o quanto o seu coração é bonito e maternal.
Eu agradeço que o senhor pense isso de mim. Ninguém nunca me disse isso. Como eu disse, nunca tive um amigo!
Você sentia falta de um amigo e que fosse puro. Não terá sido isso que levou você a acreditar nas promessas do Duda?
Acho que sim. Primeiro eu descordei dele. Achei que queria se aproveitar de mim. Depois, ele passou a ser tão carinhoso e meigo! Passei a acreditar nele. Ai ele começou a falar de sexo. Eu fiquei entre o desejo de ganhar mais carinho e o medo de perdê-lo. Mas eu juro que não queria sexo pelo sexo. Pra mim o importante era o carinho. Outras podem até pensar diferente. Mas eu queria muito mais carinho do que uma relação sexual.
E agora, como encara a sua situação de menina e de mulher? Não corre o risco de ver só o lado negativo do sexo, que é um dom de Deus e pode ser sereno e bonito?
Eu estou confusa, padre, porque a sociedade é podre. Ensina mais sexo do que amor. Isso para o homem e para a mulher. Nós jovens e crianças só vemos a parte gostosa, porém o cinema, as músicas de rádio, as conversas de rua e de escola apelam mais para o prazer, o erótico, o engraçado, o gostoso e o proibido, e falam muito pouco do inferno que é depois. Agora que estou grávida vejo que tive muito mais incentivo pra que mostrasse o meu corpo e fizesse sexo, do que para me preservar.
Como assim?
Vou dar um exemplo: Somos umas trinta e cinco aqui na rua. Umas quinze já não são mais virgens. E só tem uma que usa maiô por convicção. Tem outra que o veste por medo do pai. As outras usam os trajes mais ousados. Eu aderi, logo no começo, ao fio dental. O Duda gostava e eu gostava porque achava bonito, porque gosto do meu corpo. Tenho uma pele bonita, uma bela silhueta e, até agora, não achava errado exibir o meu corpo. Para mim era natural e saudável.
E agora, acha que não é? De repente acha que virou pecaminoso?