Imagina o que minha mãe teve a coragem de dizer: "Simone, você não tem escolha. É criança demais para enfrentar uma gravidez, e nós não queremos problemas com seus irmãos nem com a vizinhança. Vai tirar sim! Vergonha por causa de você eu não vou passar".
Aí eu fiquei histérica, padre. Eu não acho que sou, mas, naquela hora, rolei no chão dizendo que o filho era meu e que eu não ia ser "mãe aborteira". Errei, sim, mas eu queria assumir... E o meu pai disse: "Pois nós não vamos e não temos que assumir a sua imaturidade. Se quiser, pode sair de casa. Vai lá nas freiras e padres. O seu grupo de jovem não era modelo de comportamento: Vai lá com a tal irmã Rosário! Dizem que ela cuida de meninas como você. Não se cuidou, agora aguente as consequências! Em casa você não fica!”.
E eu gritava. "Não tiro! É meu filho! Ninguém vai matar meu filho"! E ele: "Ou aborta, tira, ou nós te internamos! Se quiser tê-lo que seja fora daqui. Depois, pode dar o filho a quem quiser, porque aqui eu não quero esta vergonha. Não na minha frente".
Disseram coisas duras demais, Simone. Hoje em dia os pais são muito mais abertos. Seus pais exageraram na reação. Tinham o direito de se magoar, mas foram longe demais com você, eu acho!
E eu não estou contando nem um terço dos palavrões que o meu pai disse. Minha mãe se arrependeu e se emocionou quando percebeu minha teimosia. Depois disso, passou a me defender, dizendo que só tinha sido um erro. Que eu não merecia aqueles nomes... Que eu era boa, corajosa, honesta... Que eu era uma boa filha... Mas o meu pai estava descontrolado e histérico. Ficou uns quinze dias sem comer. Porque minha mãe um dia disse: "calma", ele gritou aquele clássico palavrão para ela e acrescentou: "Pra mim vocês não passam de duas vacas da mesma laia".
Levantou-se e foi embora. Não voltou por três dias. Minha mãe precisou de calmante pra dormir. Eu tinha pena da minha mãe e raiva do meu pai. Tinha pena da minha mãe, porque pagou pelo que eu fiz, e um pouco de raiva porque, no fundo, via que ela ainda achava que eu devia ir ao médico fazer o aborto. Ela não me queria ver sofrendo, mas também não queria ter a vergonha de ter urna filha de quatorze a quinze anos com um filho na barriga. E de um moço que eu namorei apenas seis meses...
De repente me senti suja e sem ninguém que me dissesse alguma coisa bonita...
Estou nervosa! Sinto raiva de ser mulher. Às vezes esfrego a mão na minha barriga e choro de alegria pelo meu bebê. Mas choro, também, de raiva, porque eu fui tão burra de tê-lo em hora errada, em idade errada, de um cara errado e numa casa errada...
Então você acha que há lugar, idade e jeito certo de engravidar?
Antes eu não achava. Se a gente se amasse era o suficiente. Agora eu acho! É que as pessoas mentem na hora do sexo, e só se revelam quem são quando a barriga da menina cresce. O Duda não me deu nenhum beijo de amigo depois que apareci grávida. Simplesmente sumiu. Ficou com medo que eu fizesse escândalo, como outras meninas fazem. Teve medo que eu corresse atrás dele para forçá-lo a se casar comigo. Eu gosto dele, mas não ao ponto de rastejar atrás. Sou gente e me acho alguém, mesmo tendo feito sexo de um jeito imaturo e na hora errada. Mas eu não sou suja. Às vezes me acho suja, mas é porque me jogam essas coisas na cara!
Perder a virgindade é algo sério, mas nem sempre significa a mesma coisa que perder a pureza. Conheço milhares de meninas e senhoras hoje que um dia perderam a virgindade, mas não a pureza, nem o pudor, nem a dignidade...
É. Só que meus pais não pensam assim! Para eles, a pureza está no hímen. Se não rompeu, a mulher é pura. Rompeu-se, a mulher é suja. Eu acho que o ideal seria eu ficar virgem de físico e de sentimento, mas eu fui burra demais em confiar nas promessas do Duda. Jurou que nunca me deixaria se engravidasse. E que me queria pra valer, e não pra motel. Mas foi pra motel mesmo. É por isso que me sinto usada!