10 de nov. de 2011

NA MÃO E NOS OUVIDOS

Não faz muito tempo, os fiéis católicos iam “celebrar a eucaristia” ato que a maioria ainda classifica como “ir à missa” e lá, encontravam-se, ouviam e alimentavam-se. Eram acolhidos para “estarem juntos em memória de Jesus”, o sacerdote lhes punha a palavra nos ouvidos e o corpo de Cristo na boca.

Veio à renovação e a maioria dos fiéis passou a receber a palavra pelos ouvidos e o corpo de Cristo pelas mãos, embora alguns ainda insistam em recebê-lo na boca. Mas a eucaristia é, hoje, mais ouvidos e mãos do que boca e joelhos. O fiel fala, ora, responde, participa em palavras e gestos, o presidente da assembléia provoca os fiéis a responder, a se penitenciarem, a acolher, a dar a paz, a sair do seu lugar a ir buscar o corpo de Cristo. Os verbos eucaristia são penitenciar-se, ouvir, proclamar, acolher, sair do lugar, ir ao encontro, ir com a palavra, ir com as ofertas e ir de volta para casa e para outros encontros, alimentados pela Palavra e pelo pão do Céu.

Nas nossas mãos e nos nossos ouvidos é colocado um conteúdo que eleva e nos torna mais pessoas, mas que também nos provoca. Ao colocar a palavra da fé nos nossos ouvidos e o corpo de quem cremos ser Deus ontem encarnado e agora transubstanciado em nossas mãos, o presidente da assembléia e seus ministros implícita ou explicitamente nos desafiam em nome da Igreja a dizer coisas profundas e a fazer coisas profundas que façam a diferença ao nosso redor.

Não é sem sentido que se fala de “ir à missa” ou “celebrar o maior dos dons”. Missa vem de mittere, missio que em latim significam o ato de enviar e o envio. Daí as palavras missão e missionário. Vamos à missa para receber o envio. Católico que não se sente missionário ainda não entendeu a sua igreja nem o ato principal da sua igreja. Sem o verbo ir ela não existiria.

Jesus que disse “vinde e vede”, e depois, de várias maneiras disse “ide”, essencializava o Reino de Deus ao definir o ato de amar com ir ao outro levar a paz, a mensagem e a certeza de que alguém o ama. Ficar sentado a um sofá comendo pipoca e vendo o mundo passar à sua frente, tecer alguns comentários sobre a última onda tsunami, sobre enchentes, deslizamentos, seca e fome e ficar ali opinando está longe de ser catolicismo.

Se há uma gôndola no supermercado para recolher roupas e alimento, se há uma conta da sua igreja para aquela região, se pedem sangue e você esbanja saúde, mas prefere assistir tudo de camarote e de sofá sem dar sequer um passo na direção de quem sofre, falta-lhe o senso de eucaristia e de catolicidade. Católico não esquenta banco.

À medida que diminuem nossas procissões e que mesmo com saúde, ficamos mais tempo vendo a missa pela televisão, à medida que não nos mexemos perdemos uma das medidas mais claras de nossa catolicidade. Os verbos são abraçar acolher, abranger, i lá, participar. Tudo isso está expresso no rito da eucaristia que simbolicamente tem cinco procissões: de Entrada e Acolhida: mãos que acenam; pés que marcham e mãos que elevam ou aplaudem o Livro com a Palavra, pés que marcham e mãos que levam a Oferta, da Comunhão; pés que vão e mãos que recebem o Senhor e, finalmente, da Despedida: pés que vão levar a boa notícia da partilha. Todas elas supõem pernas, mas também mãos e ouvidos.

Dizia uma senhora idosa, alegre e simples: __“Explicada desse jeito, dá vontade de ir à missa três vezes por dia! Meu médico nem precisaria pedir que eu me mexesse.”... Outros sacerdotes a explicam ainda melhor do que eu, mas gosto de fazê-lo. Sei de um sem número de irmãos e irmãs que nunca mais trocaram a missa de domingo pelo supermercado ou pelo restaurante. Alimentaram-se no templo e, depois, lá fora. Sem fé, não dá. Pelo menos para eles não dá!


Pe Zezinho scj