Tenho esperanças, mas não me iludo. Apesar do oba-oba, o mundo está dialogando menos: ONU, partidos, movimentos sociais, etnias e pequenas igrejas. Depois do ataque ao WTC em 2001 os noticiários registram mais de 1000 atos de terrorismo, recrudescimento nas confrontações entre povos e etnias, entrada em cena de líderes radicais de uma nova e estranha esquerda, lenta em ver valor no centro ou na direita, mas rápida em defender ditaduras que lhe interessa defender; como conseqüência, aumenta outra vez a polarização esquerdas e direitas, visível em algumas regiões do globo que ainda ontem estavam abertas ao diálogo.
Não bastasse o aumento de compras de armas, apoio a guerrilhas e mobilização de exércitos em fronteiras, as interferências dos grandes recomeça, agora com novos atores. As religiões que ontem socavam nas ruas e nos templos suas doutrinas pela garganta e ouvidos dos transeuntes agora o fazem pelo rádio e pela televisão, o que dá aos ateus o direito de fazerem o mesmo. O movimento é pendular; hoje os crentes, amanhã os descrentes. Ontem cristãos e muçulmanos, depois os marxistas e leninistas, outra vez os religiosos e outra vez os ateus. Basta ver a história e o mapa da ascensão do comunismo, das ditaduras de esquerda e conseqüente repressão da fé, décadas depois a sua derrocada, e outra vez o crescimento vertiginoso das novas religiões na mídia e mais recentemente os pronunciamentos contundentes de ateus em resposta ao poder de fogo das pequenas igrejas em processo de expansão. O diálogo praticamente inexiste.
Jean Baudrillard fala da era da pós-orgia dos anos 60 e da excrescência, vale dizer: crescimento desordenado do corpo social. O diálogo tem a virtude de estabelecer justos limites. E é bem por isso que terroristas, guerrilheiros, partidos em ascensão, pequenas igrejas e grupos com chance de conquistar mais espaço o rejeitam. Ele exigiria compromisso de respeitar o outro e de aceitar fronteiras. O tempo de pós-orgia que sucedeu ao tempo do vale-tudo continua, agora, como tempo de novas posições e de novas conquistas. O diálogo foi fugaz e, outra vez pulula mundo afora as acusações e provocações, e a cruel mania de expor as chagas dos outros enquanto se escondem as próprias.
Outra vez setorizaram e sectarizaram a verdade. Num mundo que não a quer nem a persegue, porque vale mais o marketing do que os fatos não admira que dialogar esteja cada dia mais difícil. É que para eles o confronto compensa. Ultimamente ele traz mais votos e consegue mais fiéis do que um bom e penoso diálogo!...
Pe Zezinho scj