Tenho uma coisa aqui na garganta e outra aqui no peito, que se não contar vou explodir, padre. Não tenho para quem contar, e preciso de alguém para me ouvir. Tenho 15 anos, estou grávida de cinco meses, e quero deixar uma coisa bem clara: Não sou, não fui, não pretendo ser e nunca serei uma prostituta.
Meu pai e meu irmão vivem me dando este nome, desde que souberam que vou ser mãe solteira. Minha irmã também. E mãe solteira também é um nome cruel que não gosto. Assim como não quis ser "mãe aborteira", também não quero ser mãe solteira. O que eu vou ser é mãe adolescente. Se você me tratar como padre e amigo, vou ser sua amiga ou filha até: mas se demonstrar preconceito, eu risco você também da minha vida. Já risquei outros por muito menos...
Se entendi corretamente você me procurou porque precisa de um par de ouvidos, de um amigo, e não de um juiz. É isso que você espera de mim?
É. Não te vejo como padre, mas como amigo. E não me dê apelido, não me dê conselho antes da hora, e não tenha pressa de me ajudar. Só me escute! Fale quando achar que deve, mas, pelo amor de Deus, me deixe chorar e falar o que sinto, porque uma bomba atômica entrou na minha barriga e eu estou explodindo por dentro!
É grave assim?
É, você nunca vai entender, porque você não é mulher, você não tem hímen, nem menstruação, nem sabe o que é ter um pequeno ser dentro da gente que chegou na hora mais errada, na idade mais errada, da pessoa mais errada e no momento mais errado.