8 de out. de 2011

VINTE E CINCO BÍBLIAS

Eu era padre há dois anos, e desde então já se vão 35 anos. Dias antes do Natal resolvi pregar um sermão com o título: “A Palavra de Deus tem gosto de quero mais”. Falava do povo que até passou fome para não perder os sermões de Jesus. (Mt 15,32) Achei oportuno sugerir aos presentes, que todos os pais que pudessem, deveriam dar uma bíblia a cada filho. Junto com sua sabedoria de pais, estariam dando subsídios valiosos e uma sabedoria de 40 séculos, que Deus foi dando ao povo hebreu e, conseqüentemente, a nós que herdamos boa parte dos seus ensinamentos. Sei que muita gente o fez. Destaco, porém, o que houve na família do João Ananias.

Juntou o dinheiro que sobrou do mês e comprou para presente, de Natal, quatro bíblias de cores diferentes. Eram três rapazes e uma moça. O mais velho agradeceu, mas nunca a abriu. Acabou dando-a para a moça com quem se casou. Nenhum dos dois a lê. O segundo a usou por muitos anos em alguns encontros de jovens e é grato aos pais pela iniciativa. Sua esposa a lê freqüentemente para os filhos. Freqüenta a RCC. A menina, que na ocasião tinha dezessete anos, leu, gostou, fez anotações, chegou a entrar para um convento, saiu seis anos depois, casou-se, e é catequista e assídua leitora da Bíblia. Tem sido uma palestrante muito solicitada nos encontros de casais e demonstra conhecer muito bem o livro santo. E havia o caçula de 14 anos.

Foi malcriado, quando viu que o presente era um livro igual ao dos outros. – O que é que eu vou fazer com isso? - disse ele. Por três anos deixou–a, lá no meio das suas coisas, sem nenhum sinal de que a leria. Um dia, aos dezessete anos, voltando de uma festa, um carro o atingiu. Ficou por vários meses engessado e cheio de pinos. Começou a ler a Bíblia que o pai lhe dera. Foi ficando craque. Sabia quem falou, em que livro e em que circunstância. Acabou fã de Noé, Daniel, Tobias, Judite, Jeremias, dos Macabeus e de Paulo. Não engolia muitos os métodos de Jacó e Rebeca. Aquele gesso e aqueles pinos o aproximaram da Bíblia.

Trinta e cinco anos depois daquele Natal, naquela família de cinqüenta e três pessoas entre filhos, genro e noras, netos e bisnetos, seguramente vinte e três gostam de Bíblia, sabem manuseá-la e conhecem suas principais passagens. Fiquei sabendo disso no batizado de um bisneto deles. A frase dele, confirmada pela esposa, ainda me soa nos ouvidos:

-O padre estava certo. As 4 bíblias trouxeram outras. Temos 25 bíblias na família. E a gente as lê de caneta na mão. O gosto é de “quero mais!”...


P. Zezinho scj