6 de out. de 2011

CRENTES E ATEUS DESLUMBRADOS

Da mesma forma que há crentes deslumbrados com os seus sentimentos a respeito de Deus, existem ateus deslumbrados com os seus sentimentos a respeito da sua razão. Descartam peremptoriamente o que não é explicável e garantem que um dia será explicado. Mas que Deus exista, que Ele possa interferir na ordem da criação e que uma prece possa mudar alguma coisa, isto eles peremptoriamente negam. Assim, o crente, às vezes, fica deslumbrado com o que não sabe e o ateu deslumbrado com o que sabe.

Lembro-me da leitura de um livro de um ateu que dizia que oração é um tipo de adrenalina ou entorpecente, que, a depender da pessoa provoca submissão ou rebeldia. Ela reage submissa ou reivindicante. Reprograma-se ante o seu desejo de alcançar algum objetivo. Não é o céu que o muda, É seu estado de querer mudar que o transforma...

Segundo ele, da mesma forma que existem centenas de substâncias tóxicas que podem alterar um comportamento, o desejo de encontrar respostas e ajuda de alguém maior pode suscitar transformações no indivíduo, mas provocadas por ele mesmo. Em quase cinco páginas de explicações malabarísticas o autor tentava dizer que, em resumo, o indivíduo que ora produz em si mesmo as condições para atingir o que deseja. Insistia que não é alguém de fora que opera no indivíduo que ora: é o indivíduo que opera dentro de si mesmo aquilo que deseja conseguir. Chegou ao ponto de dizer que uma pessoa orando num avião em chamas, pode, pela força do seu desejo, junto ao desejo dos que têm medo e adrenalina afetar a turbina do avião, porque tudo vem do mecanismo humano e da capacidade do ser humano de reagir.

Repetiu-se em cinco páginas para provar que Deus não tem nada a ver com os mecanismo de mente e do mundo. São forças da natureza. Se alguma vontade existe em algum milagre é a vontade do indivíduo... Li o ateu até o fim. Interessa-me saber o que alguém não crente pensa sobre nós, crentes. Esqueceu apenas um pequeno detalhe: o crente em Deus atribui um advento não explicado ao poder de alguém maior e ele, descrente ateu estava atribuindo aos indivíduos o poder sobre todas as coisas. Um atribuí todo o poder inexplicável a Deus e o outro todo o poder inexplicável ao ser humano. Na sua teoria de que não existe nenhum poder além do poder da mente humana terá discípulos. Entre potência humana e onipotência divina ele ficou com a quase onipotência humana. Direito dele. Discordei de sua explicação: direito meu!

Padre Zezinho,scj