18 de ago. de 2012

LAMBER A CRIA


A mãe falava da filhinha para todas as mulheres na sala. Tinha tanto a dizer que monopolizou a conversa. Era a anfitriã. Uma delas tentou três vezes falar da própria filhinha, mas não havia jeito. Era interrompida com mais uma história da menininha da casa. Percebendo que ninguém ali teria direito a falar de si ou de sua família, espertamente perguntaram à exaustão sobre a menina de um ano e meio, filha, genro, roupinhas, presentes.

Ao sair, a anfitriã estava feliz e elas também. Não puderam falar de seus filhos, mas não teriam que ouvir mais sobre a menina, que era linda, mas cujas histórias ofuscaram qualquer outra.

Acontecem com cantores a falar de suas músicas, autores a descrever seus livros. Não se arrisque a falar de suas obras diante de um lambedor da própria cria. Ele não ouvirá. Você será interrompido com mais uma observação sobre a obra dele. De cada dez autores, talvez três ouçam os outros. A grande maioria falará de sua obra e prestará pouca atenção à do outro. Seja esperto. Fale do livro ou do CD dele à exaustão e não mencione o seu, nem que ele pergunte. Espere que ele insista.




Pe. Zezinho, scj