5 de jul. de 2012

CURADA A CINQUENTA MÃOS

Quando a simpática senhora, curada de câncer, afirmou, solenemente, que minha bênção a curara, aproveitei para lhe passar os meus conhecimentos de teologia e de catequese. Sentei-me na escadaria ao seu lado e disse textualmente: __“Não! A senhora foi curada por Deus com a ajuda de, pelo menos, cinquenta mãos”.

Falei-lhe, então, das mãos dos médicos e das enfermeiras na sala de quimioterapia, das mãos em prece de seus familiares e da comunidade católica dos Casais Com Cristo, da qual ela fazia parte; falei dos vários sacerdotes que a tinham abençoado e de mim, que impus minhas mãos sobre ela, naquele dia de Natal.  Todos estes irmãos e irmãs contribuíram para a sua motivação. O que houve, depois, foi que as células enfermas perderam para as células sadias e sua recuperação surpreendeu a todos. 

Brinquei, dizendo que não queria ser peru com penas de pavão. Pode acontecer e acontece que algum pregador aceite a fama de milagreiro, e, com a fama, os louvores e a veneração, indo a ponto de dar local, dia e hora do milagre no seu templo e com a sua presença. Pode acontecer de toda a assembléia atribuir a ele algum poder especial. Mas prefiro ficar com Jesus que disse à mulher que tocara em seu manto: “Foi tua fé que te salvou!”.

Se ele que, por todos os relatos de sua vida, tinha poder sobre o mal, responde com humildade a uma senhora que ela fora salva pela fé, quem era eu para aceitar aquele elogio? Creio em milagres, mas discordo de milagreiros de plantão que marcam dia, local e hora para curar dezenas de pessoas. Quanto eu saiba, o autor do milagre é Deus e ele os realiza como quer, em favor e quem ele acha que deve e quando quer.

Nunca aceitei este elogio. Se foram minhas preces, minha bênção ou minha atuação que fizeram a graça acontecer eu jamais saberei. Sei, por palavras atribuídas a Jesus, que se usarmos seu nome, conseguiremos o que pedimos. Mas sei também, por um fato da vida dele, que o que deve prevalecer é a vontade de Deus. Ele, filho fala ao Pai e diz em vários momentos que o poder está com Deus que é Pai, Filho e Espírito. Nós temos apenas o pedir.

Ela entendeu. Aceitou a interpretação de que não foi o padre famoso, - na época eu era mais famoso do que agora - e, sim, cerca de 50 ou 100 mãos unidas em torno dela que contribuíram para aquela graça. Propus a ela que visitasse seus médicos e agradecesse também a eles...

Nos dias de hoje há muitos pregadores aceitando depressa demais a aura de portadores e provocadores do milagre. Esquecem quem orou antes e durante. Na verdade, eles foram apenas mais uma voz e mais duas mãos a pedirem por aquela alma... Mas o desespero por aparecer leva-os ao marketing de apontar para si. A meu ver, estão é roubando a cena! Ninguém deles está com esta bola toda!        

Pe. Zezinho, scj