15 de jun. de 2011

DE VOLTA PARA DEUS...

Não existem especialistas em Deus e eu não pretendo ser um deles. Existem, sim, especialistas em procurá-lo; o que é bem diferente de saber das coisas. Tanto quanto você, sou um dos bilhões de seres humanos que um dia qualquer, enfrentaram Deus e lhe perguntaram: “- Afinal, o Senhor é ou não é ? Existe ou não existe ? É ou não é o Pai que todos dizem que você é ? Então, por que isto que aconteceu e que eu não entendo?”

Lembro-me, como se fosse hoje, de uma senhora de 72 anos que não gostava de Deus. Por conseguinte, não gostava de falar com os padres, muito menos com um mocinho inexperiente como eu, de apenas 34 anos, que pretendia mostrar ao mundo o caminho para Deus. Eu havia dito, na palestra, que Deus é amor e é Pai...

“-Você ainda não viveu, mocinho”, disse ela. “Se tivesse vivido, saberia que um Deus que sacrifica seu próprio filho nem é Deus, nem é Pai. Se existir, que seja apenas Deus. Não gosto do Deus de Jesus Cristo. Prefiro o Deus que não deixou Abraão sacrificar o filho  Isaac. Não entendo, nem quero entender isso de Pai e de Filho. Eu não me sinto filha dele”.

Tinha uma história muito dolorosa. Fiquei sabendo do acidente de dois filhos e do marido, acidente que quase a levou à loucura. Poderia refugiar-se no espiritismo da irmã que lhe dissera como e onde eles estão ou poderia escolher o catolicismo da filha, ou ainda, o ateísmo do neto. Escolheu apenas brigar com Deus, sinal de que ainda o amava. Ninguém briga o tempo todo com alguém que não é importante. Se fica perto e procura é porque sente alguma admiração. Deus era importante para ela. E era tão importante que, não o vendo, escolhia brigar com seus “representantes”. E ela disse a palavra "representantes" com enorme sarcasmo.

Falou quase duas horas com amargura e ironia. A velha espanhola sabia do que estava falando. Sou de falar pelos cotovelos quando escolho defender um ponto de vista, mas naquele dia fiquei quieto. Aprendi mais sobre a Guerra Civil Espanhola em duas horas do que em todos os anos de escola. A velha senhora tinha razão. Deus a machucara. E agora ela brigaria com ele por toda a vida.

Três anos depois soube que morrera. E morrera num hospital católico, cativada pela ternura de uma sorridente freirinha. Teria dito antes de morrer: “- É muito ruim brigar com Deus. E ele me venceu porque ficou quieto. Mas eu sobrevivi porque não me calei...”

Era muito sábia. Pior para mim que só a escutei uma vez. Teria aprendido muito com o seu quase ateísmo que, no fundo, era mais cristão que meu discurso de padre. Ela brigara com Deus por causa dos filhos de ambos, de Deus que os levara e dela que os perdera ...
                                                                                                                         Pe Zezinho scj